7 de abr. de 2009

Um volta pelo sul

Por que Roth caiu vamos analisar os fatos.

O domingo fechou mais um ciclo de Celso Roth no Grêmio. A derrota no Gre-Nal encerrou a terceira passagem do treinador pelo clube. Ele assumiu o time em fevereiro de 2008, no lugar do invicto Vagner Mancini.

Desde o início o nome de Roth não era unanimidade entre os torcedores. Após grandes tropeços no começo do trabalho, o comandante conseguiu se equilibrar e seguir seu caminho. Mas em um ano e dois meses de Olímpico, foram diversos deslizes que fizeram o técnico perder o seu cargo.

Confira os sete erros capitais de Roth no comando do Grêmio:

1) Eliminações precoces
Os primeiros vacilos ocorreram quando não podiam acontecer ainda em 2008. Em uma semana, o time comandado por Roth foi eliminado no Estádio Olímpico pelo Juventude, no Campeonato Gaúcho, e pelo Atlético Goianiense, na Copa do Brasil. Com pouco tempo no clube, o treinador balançava pela primeira vez.

O Tricolor ficou um mês sem jogar devido às eliminações precoces. Nesse período foi aprimorada a preparação física dos jogadores e realizados amistosos. Nos amigáveis o desempenho foi fraco; a demissão era questão de tempo - ou melhor: esperava-se somente a derrota na estreia do Campeonato Brasileiro. Só que mesmo fora de casa o Grêmio bateu o São Paulo, salvando o pescoço do treinador.

2) Perda do Campeonato Brasileiro
A campanha do Brasileirão surpreendeu. Cotado para brigar contra o rebaixamento, o Grêmio se tornou um forte candidato ao título após as primeiras rodadas. Com metade da competição concluída, o Tricolor tinha o melhor desempenho no primeiro turno na era dos pontos corridos.

Eram 11 pontos de vantagem para o São Paulo, mas rodada a rodada a diferença foi diminuindo. Em partidas decisivas, como contra o Cruzeiro, por exemplo, o time não se portava bem. O resultado foi a perda do Brasileirão. Se a classificação para a Libertadores foi além das expectativas antes do início da competição, o Grêmio perdeu um título que esteve em suas mãos.

3) O esquema 3-6-1
Com um 3-5-2 consolidado, a pré-temporada teve como objetivo criar variações táticas para o time no decorrer da temporada. Em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, Roth enfatizou trabalhos com o esquema 3-6-1. O 4-4-2 estava em segundo plano e o 3-5-2 ficou relegado a ser a última opção. A justificativa era que a equipe já estava adaptada a este modo de jogo.

O sistema com somente um atacante agradou a Roth. Em alguns jogos valendo pontos, ele foi utilizado. Inclusive em um dos Gre-Nais, causando a ira da diretoria, que nunca foi com a cara do esquema.

"Houve uma mudança, que acabou fazendo a equipe perder muito da qualidade demonstrada. E sempre se corre o risco de mudar algo que está dando certo", criticou o assessor de futebol André Krieger após a derrota em um dos clássicos. Depois de perder o primeiro turno do Gauchão com essa tática, o 3-6-1 foi tardiamente abandonado.

4) Desprezo pelo Gauchão
Celso Roth nunca escondeu que a Libertadores era a prioridade gremista em 2009, mas o treinador pecou ao desprezar o Estadual. Pior: desdenhou do Gre-Nal, que é um torneio à parte, disputado em um jogo só, que vale tanto quanto um título.

Após vencer o Veranópolis, com time reserva, em uma sexta-feira, o Grêmio garantiu o seu lugar na decisão da Taça Fernando Carvalho. Após a vitória sobre o VEC, Roth ateve-se a diminuir a importância do clássico que decidiria o segundo turno e a qualidade do maior rival.

"Quem organiza o campeonato atingiu o seu objetivo. Para nós é um absurdo, porque não se privilegia o mais importante. O jogo não serve de preparação para a Libertadores, porque o Inter não está nela", comentou após o jogo contra o Veranópolis.

No domingo, o Tricolor foi derrotado por 2 a 1. Após perder novamente para o maior rival, seguiu-se uma série de maus resultados, empate com o Ypiranga e derrota para o Santa Cruz. O treinador ficava balançando outra vez.

A salvação estava na Libertadores. Com uma atuação superior ao adversário, o Grêmio bateu o Boyacá Chicó por 2 a 0, na Colômbia. Roth conseguia-se se equilibrar na corda que cada vez estava mais fina e bamba.

5) Douglas Costa
Quando tudo parecia ter voltado à tranquilidade no Olímpico, Roth conseguiu sozinho destruir o clima interno. Apesar de ter quase 20 anos de profissão, ele cometeu um erro de principiante e fez seu conceito - que era baixíssimo com a torcida e razoável com a direção - cair a patamares mínimos.

Com as atenções da imprensa gaúcha voltadas para a partida da seleção brasileira diante do Peru, Roth parece ter sentido vontade de aparecer nas manchetes. Em um treino, aparentemente normal, ele disparou sua metralhadora sobre o meia Douglas Costa.

"Velocidade é a única coisa que você tem. Você está fisicamente aqui, mas parece que não está interessado. A cabeça não está aqui. Você acha que sabe tudo, mas não sabe merda nenhuma", esbravejou contra o garoto.

Desde que voltou da seleção sub-20, o jovem Douglas Costa era preterido pelo treinador - inclusive, quando os reservas atuavam. O meia de 18 anos é considerado uma joia no Olímpico. Um diamante avaliado em R$ 80 milhões. A atitude do comandante da equipe não agradou aos dirigentes.

"Às vezes, um técnico assume o papel de pai com os jogadores. Mas isso não justifica os termos que foram usados", advertiu Krieger.

6) Planejamento
Desde o primeiro dia do ano, o treinador falava em 'planejamento' - expressão mais utilizada durante as entrevistas de Celso Roth nos quatro meses de 2009. Contudo, foi exatamente um erro desse tipo que começou a fazê-lo perder o cargo.

Após xingar Douglas Costa, o Grêmio partiu para Caxias do Sul para enfrentar o Caxias, pela última rodada da fase de grupos da Taça Fábio Koff. Visando à Libertadores, Roth poupou seus titulares, que voltariam a jogar somente na terça-feira diante do Aurora. O planejamento custou caro.

Os reservas gremistas deram vexame. Não foram vistos em campo. Podendo perder até por dois gols de diferença para evitar um Gre-Nal, os tricolores foram goleados por 4 a 0. Sem um plano B, a direção anunciou que os titulares entrariam em campo. Coube a Roth acatar.

"A direção se pronunciou e temos que acatar. Nós conversamos e isso tem que ficar claro. A direção sabe exatamente as circunstâncias de colocar uma equipe titular no domingo", explicou o contrariado treinador ao falar do "pedido" da diretoria para escalar os titulares no clássico diante do Inter.

7) Não vencer Gre-Nais
Celso Roth planejava conquistar a América, mas se esqueceu do seu incômodo vizinho. E o Inter tirou o sono do comandante. São sete partidas sem vitórias tricolores. Sendo que os últimos quatro confrontos terminaram em festa colorada.

No Brasileirão, a goleada vermelha por 4 a 1 custou ao Grêmio a liderança da competição. Em 2009, apesar de atuar melhor no primeiro clássico do ano, o Tricolor saiu de cabeça baixa, após levar 2 a 1.

Na decisão do primeiro turno do Campeonato Gaúcho, o treinador arriscou o 3-6-1. O time não viu a bola. Enquanto perdia por 1 a 0, Roth modificou a equipe, colocando-a no 4-4-2. A mudança surtiu efeito e o empate chegou.

Mas o comandante tricolor parecia ter medo de vencer. Assim que igualou o placar, modificou novo, retraiu seu time com o 3-5-2, levou o segundo gol e viu a festa vermelha no Beira-Rio.

No último domingo, nova derrota por 2 a 1. A atuação gremista não foi ruim. Mas era tarde demais. Roth já carregava sobre si seis erros capitais. Não vencer um Gre-Nal sequer era o seu sétimo. A cota havia sido saturada.
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